Fundação elege 5 ativos prioritários retomar em 2021
Depois de recuperar quase R$ 400 milhões em investimentos que estavam em default no ano passado, o Postalis elegeu cinco ativos prioritários em que vê possibilidade de recuperação em 2021. A carteira do fundo de pensão dos Correios tem cerca de 80 investimentos mal-sucedidos realizados nos últimos anos. O movimento ocorre desde antes da intervenção pela Superintendência Nacional de Previdência Complementar (Previc), em 2017, e incluiu a contratação de empresas especializadas, caso da Veritas Capital, responsável pelo trabalho feito em 2020.
A fundação foi alvo de práticas de corrupção no passado e tem mais de 60 ações movidas contra credores e prestadores de serviços. Várias operações da Polícia Federal miraram fraudes e má gestão da fundação e parte do trabalho inclui ativos investigados nestes casos.
“Há alguns casos em instâncias judiciais, outros com apoio de gestores e também discutimos diretamente com os próprios devedores. Cada um é uma situação diferente”, disse o diretor de investimentos do Postalis, Pedro Pedrosa.
Todos os investimentos mal-sucedidos já foram provisionados no balanço da fundação, em um total de R$ 3 bilhões. A gestão do Postalis, que assumiu após o fim da intervenção em 2019, afirma recorrentemente que não deu os valores por perdido e que vai tentar reavê-los aos máximo. O déficit atual da fundação é de R$ 7 bilhões. O diretor de investimentos não detalhou os ativos que serão alvo de recuperação em 2021, mas afirmou que a escolha considerou, por exemplo, se a fundação aplicou um volume expressivo de recursos no investimento. “Vamos continuar com os trabalhos em parcerias com gestores, recuperadores e escritórios. E vamos intensificar a questão jurídica quando necessário”, acrescentou Pedrosa.
Em outra frente, o fundo de pensão busca alternativas, como o trabalho de melhorar a gestão de ativos em que ainda vê valor. Foi o caso do fundo de investimentos em participações Eletronic Tranding Brazil (FIP ETB), criado para angariar recursos na “nova bolsa”, que pretendia competir com a B3 no mercado brasileiro. O Postalis aportou R$ 119 milhões e foi um dos primeiros investidores. O ativo foi alvo da operação Rizoma, em 2018. No ano passado, o Postalis se articulou para que Angra Partners passasse a ser o novo gestor do fundo. “Há uma perspectiva de que conseguiremos devolver ao Postalis, nominalmente, pelo menos de R$ 500 milhões a R$ 800 milhões”, disse o presidente da Veritas, Rodrigo Moratelli. Este ano, a gestora está próxima de recuperar mais R$ 180 milhões para a fundação. Os ativos recuperados, em sua maioria são imóveis como terrenos e loteamentos. E há possibilidade de valorização, acrescentou. “Há, por exemplo, uma área de loteamento na região da Grande São Paulo avaliada em R$ 100 milhões e que tem potencial para performar de R$ 200 milhões a R$ 300 milhões”, disse Moratelli.
O trabalho da gestora consiste em identificar “‘vícios” que existiam nos ativos investidos, caso de debêntures, fundos de investimentos em participações (FIPs) ou cédulas de crédito imobiliários (CCIs). E incluem garantias constituídas de forma frágil, ou as próprias operações foram “estruturadas dentro de um contexto não usual de mercado”.
Dentro do trabalho de recuperação, é preciso identificar os investimentos problemáticos dos que simplesmente não deram certo, por características do negócio ou dos rumos da economia. Na época de muitos dos aportes, as perspectivas positivas para a economia brasileira acabaram não se concretizando, piorando o contexto.
Em muitos casos os acordos conduzidos pela Veritas ocorrem em paralelo às questões judiciais. “Às vezes, o tempo do judiciário é inimigo do tempo econômico. Eles não estão relacionados”, disse o presidente da gestora. Mas as estratégias adotadas vão depender de cada situação.
Além do trabalho da recuperação de ativos, há outras questões a serem enfrentadas, como o enquadramento dos ativos recuperados no portfólio das entidades. Como não há previsão na legislação, em alguns casos pode restringira monetização. O Postalis decidiu enquadrar o imóvel recuperado em um fundo imobiliário exclusivo.
Em paralelo, há um processo civil aberto em 2018 pelo Ministério Público Federal em São Paulo contra o BNY Mellon, que pede ressarcimento de mais de R$ 8 bilhões em prejuízos causados à fundação. O assunto é tratado pelo Postalis sob confidencialidade, apesar de nunca ter omitido que trabalha para um acordo. Procurado, o BNY Mellon não comentou.